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Real e sonho
Abro os olhos
Depois de uma tempestuosa noite Na penumbra, meu olhar Percorre todo lugar E volta a se fechar Não há ninguém Entre pequenas frestas de luz E sombras que restam Nada reluz Continua ali A figura carrancuda e fria Da solidão que desde o dia Que pela primeira vez os olhos abri Me espreitava Aguardava Ereta e calada E ali continuava Quero voltar a dormir Sonhar que tudo está a florir Ter em minha face Desenhado permanente O sorriso de quem se sente Simplesmente pertencente Não mais intrusa Não mais quem por favor Lhe doam uma gota de um amor Que não se liga Não vincula Não torna parte É apenas fração Como a mão na cabeça do cão Que o caminho cruza E por segundo Se compadece Toca no vagabundo E depois segue Voltando-se pra trás Assegurando-se de não o ver mais E na penumbra Entre noite e dia Ou dia e noite Olhos abertos Ou fechados Entre o silêncio apenas quebrado Por palavras calculadas Palavras necessárias Sem permissão para avançar Vou fingindo não me importar Arrumando tudo para não incomodar Enquanto por dentro Tudo quebrado está E enquanto oculto A vida segue seu roteiro E nos intervalos me permito Um alívio Quase um grito Pelas lágrimas que me cortam Enquanto oculta Pelo escuro Minto a mim Me engano Fazendo ninho No abraço dos meus braços E depois Respiro fundo O rosto enxugo Ergo o corpo cansado Ajeito as vestes No espelho ponho a máscara Encho-me do nada E como o cão Que a calda abana Caminho Sigo Sozinha Até o crepúsculo Ainda crente Mesmo que ciente Da vida que sonho Da vida que tenho E no minúsculo Faço Sonho Sigo e me recomponho
Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 10/02/2023
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