Hoje eu tenho tempo
Tempo inexorável
E nele tenho permitido
Largar meus pensamentos
Soltá-los ao vento
As amarras que os prendiam
Deterioraram em outro tempo
Hoje eu sinto
O que antes impertigava
Hoje não é nada
Ou talvez nunca o tenha
Era apenas a máscara
Colocada sobre a face
Pelo medo que acabasse
No agora emerjo
Frágil e exposta
Pele arrancada
Mesmo já sabendo
Que não devo esperar nada
Sensível observo
A transmutação interna
E nem sei se daquela
Resta ou deva restar
Dia a dia
Da louca agonia
A acidez da lágrima a rolar
O coração magoado
No peito apertado
A boca a gritar
Um grito dolorido
Que nunca aos teus ouvidos
Chegou pra ajudar
E agora
Depois desses longos dias
Das noites mais frias
Eu tenho tempo para pensar
Sentir a mim
Me permitir me olhar
Eu sei que ainda moras em mim
E nem sei se irás me desabitar
Mas hoje, enfim
Eu consegui respirar
Sem sentir meu peito me esmagar
E queria te contar
Quem sabe, daqui a mais  um tempo
Eu te venha mostrar
Minha face num sorriso
Sem precisar me mascarar
E ainda te amando
Consiga te encontrar
Sem uma lágrima
Sem pranto
Apenas feliz por te amar