Me pergunto
Se em algum momento
Tua mente de mim se recorda
Se algo meu te interessa
Se pensas no que sinto
Se teu coração acelera
Ao reviver o que falamos
Ou se nem repara
Nem te incomoda
Se estou triste
Se a solidão persiste
Ou se alegre pensa
Que sigo a viver
Pois te digo
Eu minto
E digo estar contente
Para que nunca perceba
Toda essa tristeza
Que por mais que esconda
Tudo se revela no meu falar
Não vejo beleza
No que brota em meu olhar
É mais uma lágrima
Que se faz rolar
Nada vês
E certamente nem o quer
Outra história te interessa
Sigo fingindo não saber
Depois de outra noite acordada
Prendo a lágrima
A face maqueio
Um sorriso disfarço
Acho coragem
Abro a porta
A vontade que sinto
Prendo
Me distancio de tudo que possa me fazer
Te buscar
Falar
Sobram-me as palavras
Coisas que não te disse
Presas na garganta
Que para não enlouquecer
Grito na poesia
Solto-as ao vento
Me sufoco
Temo não poder
Mantê-las por mais tempo
Dentro de mim
Acorrentadas no pensamento
E outras palavras
Ouvidas
Lidas
Que trouxeram mágoa
Emergem e gritam
E o medo persiste
Lágrimas insistem
Brincam com o que sinto
Pesadas
E mais palavras
Palavras que gritam
E brincam
Com o meu pensamento
Sobram-me as palavras
Que são tão pesadas
Mas sobram também
As que enchem a alma
De amor, de paz e de calma
São tantas as palavras
Preciso soltá-las
Mas essas palavras
Já não possuem endereço
Serão eternos adereços
Dessa minha solidão