Faz tanto tempo que estou pelo avesso
Tantas partes de mim fui perdendo
Quase já não me reconheço
O que certo sei
É que a melhor parte de mim era você
Mas também essa parte já não tenho mais
Ficou entre os outros pedaços que me arrancaram
Meu corpo está fraco
Como fraco meu coração está
E faz tanto tempo que quase já nem lembro
De detalhes pequenos
Como o tom da tua voz
Cada detalhe que já não lembro
São cicatrizes profundas
Que muita dor me traz
Sou agora uma moribunda
Que se alimenta dessas dores sentidas
E dos delírios que essas dores trazem
Mas também isso é o meu veneno
Por saber eu que nada é real
Vivo num tempo perdido
Entre o ontem e o agora
Tempo que não tem nome
Vazio como no passado
Mas só eu sei a dor que me traz
Sigo perdida
Desencantada com a vida
Por vezes tenho o olhar
Fixado na janela
Observo as cores
Que luz no vidro refletida
Luzes multicoloridas
E por um segundo
Finjo serem as cores
Que colorem minha vida
Mas é só por um segundo
E logo perco as cores
Entre o cinza e o negro
Cores que não traduzem vida
Cores de todas as dores
Que em minha alma habita
Das poucas que de você em mim tenho
Se traduz facilmente numa única palavra
Mas essa silenciei
Tranquei dentro de mim
Te libertei enfim
Pois era essa palavra trancada
Que a você me ligava
Sigo sem nada
Mas sigo serena
Por saber que minhas feridas
Minha própria vida
Não te importa mais