Gabriela S. Verdan

O amor me move. O amor me faz. Sou parte do amor e nem conheço o amor.

Textos

Espectro que ama
A pele fria
De triste figura
Tocada por um vento
Que sopra gélido assoviando
Vai se esgueirando
Pernas trépidas
Quase não se aguentando
Tenta chegar
Pelas lápides se segurando
Um corpo frágil
Quase esquelético
Arranja forças
Prossegue se esgueirando
Tropeça
Cai
As forças quase se esvaem
Mas ela não pode
Se entregar a própria sorte
Tem que lutar
E das entranhas
Retira forças
Se reergue
Prossegue
Entre os vivos permanece
Mesmo já não tendo vida
Pois morreu em sonho
Enquanto dormia
Como por engano
E ela não sabia
Que o mesmo amor
Que a vida lhe restaurou
Também ele seria
O que a mataria
Trôpega ela vai
E sequer ninguém notou
Toda dor que exala
Desse frágil corpo cheio de amor
Dá um passo e cai
E outra vez se levanta
Gastando cada gota
De suas poucas forças
Mas ela persiste
Do amor não desiste
Caminha pelas sombras
Entre outros fantasmas
Para não ser notada
Pois ela tem medo
Das palavras antes ditas
Que lhe tiraram a vida
Ela só deseja
Nas sombras escondida
Estar perto de quem ama
E viver e morrer nesse sonho
É tudo desconexo
Ela sabe que é loucura
Não há quem a ame
Essa é a verdade mais pura
Mas para ela isso já não importa
Nunca teve amor
E se ela ama
Tudo o que ela precisa
É tê-lo por perto
Mesmo que ela saiba
Que tuas mãos não o tocarão
Que teus braços não o abraçarão
Tua boca não terá o beijo
Juntos nunca estarão
Por ser ela um espectro
Inexistente no que para ele
É o que importa
Também sabe ela
Que viver de sonho
É eternamente ser
Inexistente para tudo
E nem por um segundo
Terá dele um resquício
Que se possa chamar de amor
Nessa caminhada
Ela tão cansada
Dias, noites, madrugadas
Na sombras ocultada
E de repente
Um arrepio
O corpo dela toma
Outra vez ela tomba
Já sem forças ela apenas sonha
No chão frio
Corpo esticado
Pelo vento gélido tocado
Mas em seus sonhos
O teu amor nos braços a toma
Ergue-o e o leva
Enquanto teu olhar penetra na alma
Descobrindo assim o segredo dela
Um amor sem fim
Que nem a morte carrega
E pela primeira vez
Os lábios dela
Encontram-se com os dele
Selando o que ela tanto esperou
Teus mais lindos sonhos
Nesse sonho de amor
Essa moça desacordada
Pensa que realizou
Mas ela abrirá os olhos
Se verá largada no solo
Solitária como sempre
Sem nunca perto ter estado
Do seu príncipe encantado
E de novo ela se levanta…
Continuará nas sombras…
Não ouvirá palavras de amor
Mas as dirá todas
Todos os dias
Todas as noites
Todas as madrugadas
Mesmo que morta
Segura na lápide
Perto de seu amor tentando
Chegar e ficar
No silêncio mais profundo
Que grita ao infinito
O quanto o ama
O quanto sempre amou
Essa é uma história
De um espectro que em vida
Nem teve despedida
E mesmo na morte
Assim como na vida
Sempre amou


Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 13/10/2023
Alterado em 13/10/2023
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras