Gabriela S. Verdan

O amor me move. O amor me faz. Sou parte do amor e nem conheço o amor.

Textos

Noites…dias…
Lá fora os primeiros movimentos do novo dia
Passarinhos cantam, ainda pousados
Nos galhos das árvores em que se abrigaram
A chuva fina cai…
Algumas pessoas nas ruas caminham
Não estão apresadas
Vão pelas ruas vagarosas
Uma ou outra conversam
A noite se despediu com a chegada da aurora
Mesmo com chuva, a luz foi adentrando
Pela noite vaguei perdida
A vi chegar
A vi partir
Meus olhos não se fecharam
Caminhos muito incertos
Os pensamentos sem um rumo
Sem um porto seguro
Vagueia sem direção
Coração na mão
Lá fora a vida prossegue
Sem considerar o que eu sinto aqui
Sou apenas um grão de areia
Uma mera poeira
Nesse infinito universo
Não há vida perto de mim
Não há barulhos no meu finito espaço
O que o faz apenas é composto
Por inanimados, seres sem vida
A respiração é profunda
Uma busca interna
E em cada batida do coração
Mais profunda é a respiração
Pensamentos se misturam
Entre o real e o imaginário
Por vezes quero crer
Não no que vivi
Mas no que apenas foi um sonho
Pois foi neles que fui feliz
Neles o amor vivi
Mas, de repente, tudo fica desconexo
As lágrimas causam um curto
E para realidade volto
Olhando novamente a minha volta
Entre imagens embaçadas
Confirmo minha solidão
E a dor aumenta no coração
Ergo o corpo já cansado
Febril, trôpega, caminho
Talvez as águas me animem
E de olhos fechados deixo que molhem
Esse meu corpo cambaleante
Quem sabe essas águas
Carreguem junto com elas
Todo essa dor que me dilacera
Mas ainda sob as águas
As águas dos meu particular oceano
Juntam-se as águas do banho
Talvez seja a toalha o instrumento esperado
E minha redenção esteja no toque do algodão
Enquanto seca o meu corpo
Talvez seque a razão
De haver dentro de mim esse oceano
Que se derrame em constantes lágrimas
E me tira o sono
Outra ilusão criada
Outro passageiro sonho
Não é uma simples toalha
Que mudará uma vida de abandono

Outro dia
A vida lá fora se levanta
Vagarosa
O céu se derrama
Pássaros úmidos cantam
Poucas pessoas na rua
Um corpo febril
Fragilizado por tantas dores
Um coração ferido
Bate tristemente
A vida permanece indiferente
Segue em frente
A dor persiste
A lágrima insiste
Mas já é hora
Não posso inerte ficar
Preciso ir para o mundo
Vestir-me com vestes
Que escondem o corpo, a alma
E que o coração disfarça
Para que as lágrimas
Nesse tempo desçam
Por dentro desse corpo e a febre
Se afogue nelas
Não há mais tempo
A luz do novo dia toma
Todo meu quarto de sombras
Me visto, saio
A porta bato
Barulho das chaves
Tranco
Viro às costas
Agora não mais posso
Permitir que vejam
Tudo que por dentro guardo
Um esboço de sorriso deixo
A mostra no meu rosto
Na vida uma atriz
Interpretando ser feliz

A noite vai retomando
Seu lugar e na luz colocando
As sombras que traz
É o prenúncio
O dia termina
Recolho minhas coisas
Desligo
Fecho
Com o mesmo sorriso me despeço
Ando
Sem qualquer pressa
O coração alerta
“Não há ninguém a sua espera”
O sorriso se desfaz
O oceano se derrama
Em forma de lágrimas
E outra noite já declara
Insônia
Lágrimas
Coração dilacerado
O corpo por dor e febre tomado
Abandono
Um mundo frio
Completamente vazio
Tomado por sonhos
Invadido por fatos
Tudo desconexo

A noite finda
Outro dia…




Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 15/10/2023
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