No horizonte, o sol vem a escuridão tomando
Diz a lenda que é esse um dos poucos instantes
Onde ele pode estar com seu amor
E nessa fração de alguns segundos, se unem, se amando
Fazendo desse instante seus sonhos constantes
E assim aliviam a imensa dor
De viverem um amor sem poder viver
Eu, acordada, olhando os movimentos da longa noite
Chego até a madrugada e sinto a dor dos dois
Sinto e os invejo por viverem ambos o sentimento
Mesmo que por breve momento
Pois a minha sina não me dá nenhum segundo
Nem é amor sentido pelos dois
Não é amor vivido, é amor sofrido
Que no passar do tempo
Como dizem aos que pelo amor foram deixados
A cura está no tempo
Mas em mim é só tortura
Não vem o tempo da cura
E entre os dias e as noites
Vivo na agonia pura
A figura refletida
No embaçado espelho
Onde quase já não me vejo
É reflexo dessa dor sem cura
Uma vez ouvi dizer
Que amor não faz doer
Contudo só não sente
Quem não ama um amor ausente
Eu concordo que o amor
Deve ser lindo
Quando é sentimento
Por dois corações no mesmo tempo
Só assim não trará dor
Mas amor vivido
Por um coração que fora partido
Pela falta do amor
No coração daquele que ama
Se faz dor constante
Lateja a todo instante
Não há um segundo de calma
Tudo remete ao amor que se sente
Até o vazio do que se faz ausente
Ah! Quanta saudade eu sinto
Do que eu era antes
Uma garota que pela vida lutava
Não estando acompanhada
Pois vivi desde criança
Consciente de minha saga
O que me fez esquecer
Foi me perceber
Que amava você
Essa foi minha ruína
Mudou completamente tudo na minha mente
Só a solidão não aceitou mudar a sina
E nesse amor sozinha
Me vi nos tempos de menina
Sonhando com quem não vinha
E são esses os meus sonhos no agora
Mesmo também sabendo que continuarei sozinha
O meu pequeno bálsamo nesse tempo
Não está no crer que esse sentimento
Viverá e depois terá o tempo do morrer
Pois não creio que haja morte para o amor
Mas creio que com o tempo
Esse amor achará um canto
Nesse coração todo quebrado
E se fará mais aquietado
Deixando por mais tempo
Que eu viva alguns momentos
Com minha face seca
Sem tantas lágrimas
De vez em quando
Ainda haverão lágrimas
Ainda sentirei saudades
Mas, serão momentos
Haverá outras coisas no meu pensamento
Não se esquece um amor
Aprende-se a continuar com a dor
É o que antes, quando nos conhecemos, eu te dizia
É a fantasia
A roupa do dia a dia
É a maquiagem que na face esconde
Todas as olheiras do abandono
É o vertir-se para seguir a vida
E quando a escuridão invade
Quando ninguém mais está por perto
Tira-se as roupas
Limpa-se a face
No espelho se reflete
A alma que de dor se convalesce
Esse é o meu caminho
Encontrar-me com o espelho
Ter o chão todo vermelho
Deitar-me com a solidão
Sem sonhos, só a realidade
Dentro do coração
Preciso me encontrar
Na imagem do antigo espelho
Preciso te guardar
Dente do meu peito