Gabriela S. Verdan

O amor me move. O amor me faz. Sou parte do amor e nem conheço o amor.

Textos

Cegos
De tudo que há em mim
Tudo que decreta o meu fim
Não há olhar que em mim penetre
Um olhar que me conserve
O olhar que me olha por fora
É incapaz de me ler os pensamentos
De enxergar a dor  que me devora
De ver tudo que me consome em cada momento
Perceber minha alma que se afoga
Escutar meu grito de silêncio
Sentir meus lamentos
Escondidos em falsos contentamentos
Ver meu peito completamente vazio
Em meio as dores que o fazem cheio
Das tristezas que fazem sentir tanto frio
Entender que morreram minhas certezas
E que hoje me afogo em tristeza
Compreender que não tenho razão para lutar
Pois as lutas de outrora todas não tiveram vitória
Não se vê que minha ferida continua a sangrar
E minha alma fez-se o reflexo de um moribundo
E a cada dia que passa mais me afundo
Passa o tempo…
Me assombram os pesadelos
Vivo em constante medo
E no meio desse vazio tão cheio perco a razão
E sinto que pouco a pouco pára meu coração
Peço forças para continuar
E no mais profundo
Respiro bem fundo
E o coração continua a pulsar
E tudo o que para mim era tão real
Desfaz-se nas águas salgadas à dor leal
Outro dia amanhece
Tudo se enternece
E no silêncio companheiro
Enquanto abro o chuveiro
Na cabeça uma pergunta
Vai e volta, faz grande bagunça
Será que estou vivo por fora
E aos poucos morro por dentro ?
Será morri e sigo um espectro a me iludir?
Será que não é dor e sim negação de partir?
Essa dor não passa e a noite parece eterna
Dentro, onde ninguém vê, tudo é cólera
O vazio transborda no meu olhar
E ninguém consegue notar
O cansaço aos poucos me vai consumindo
E dia após dia eu vou resistindo
Um dia as forças me faltarão
Um dia a alma mergulhará no vazio infinito
E o corpo não terá forças para continuar
E o tic tac do relógio anunciará
Que já é tempo de parar
Nesse dia talvez alguém irá perceber
E o meu corpo irá ceder
Darei à terra minha carne para consumir  
E o pó dos meus ossos será levado pelo vento
E nem recordação serei
Disso bem sei
E quando o anjo da morte me vier buscar
Não temerei em dar-lhe a mão
Deixarei meu corpo pelo chão
E nem assim me notarão
Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 24/05/2024
Alterado em 24/05/2024
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